terça-feira, 2 de julho de 2013

O que significa dobrar a bancada evangélica?

Feliciano, o boquirroto que sabe onde o galo canta
Foto:  André Coelho/O Globo
Evangélicos são 15% da Câmara e 22,2% da população
Uma coisa tenho que admitir.
Alguns líderes evangélicos sabem fazer barulho. Falo, entre outros, do deputado Marco Feliciano, o esdruxulo presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados - CDH.
Feliciano saiu pisando duro e falando alto da sessão de hoje à noite que enterrou o Projeto de Decreto Legislativo - PDC 234/11, mais conhecido como de “cura gay”.
Segundo ele, o PDC foi retirado e não “arquivado”. Promete voltar ao assunto na próxima legislatura – e com força redobrada.
“Nos aguarde (sic) em 2015! Viremos com força dobrada”, escreveu no Twitter o pentecostal, pastor da Catedral do Avivamento, igreja filiada à Assembleia de Deus.
Há poucos dias, Feliciano ameaçou Dilma com a mesma lorota. Em entrevista à imprensa e também ao microfone do plenário, o deputado ameaçou "tomar providências" caso houvesse interferência do Executivo na tramitação do “cura gay”. Indagado sobre quais providências seriam essas, respondeu que “ano que vem é ano político”. Para bom entendedor, um pingo basta.
O que significa dobrar a bancada evangélica?
Essa bancada ampliou  – e muito – sua visibilidade com a assunção de desinfeliz ao controle da Comissão de Direitos Humanos (culpa do PMDB).
Na prática, os 66 deputados evangélicos atuais formam uma representação relativamente adequada da população que se declarou evangélica no Censo 2010 –   15% da Câmara e 22,2% da população, respectivamente.
Por outro lado, levantamento realizado pelo jornalão Folha de S. Paulo, em matéria publicada em 26 de maio deste ano, mostra que eles estão dispersos entre 24 igrejas, com articulação quase nula em votações.
Existem evangélicos do PT (Benedita da Silva -RJ); do PMDB (Leonardo Quintão – MG), do PSDB (como o próprio João Campos, presidente da Frente Parlamentar Evangélica), e 13 outros partidos.
Além disso, eles não se entendem.
Leonardo Quintão e Anthony Garotinho (PR-RJ), ambos presbíteros, se enfrentaram por causa da Medida Provisória dos Portos. Garotinho já foi processado por danos morais por Benedita e é desafeto confesso de Eduardo Cunha (PMDB), ligado à igreja Sara Nossa Terra. Nem a bancada da Universal, a mais coesa entre os evangélicos, é totalmente unida: embora seis deputados sejam filiados ao Partido da República, um é do PRB.
Com tamanha dispersão,  possuem baixo poder de pressão nas questões mais universais e que envolvem o problema do desenvolvimento econômico e social do pais.
O grupo tem pouco em comum, fora as questões de crença e de moral. Estão juntos e embolados nas causas que representam o pensamento religioso mais conservador, tais como o direito ao aborto, a aversão aos gays, e outras. Vide as declarações de Marina Silva, da Rede, em favor de Marco Feliciano que, segundo ela, é criticado “por ser evangélico, e não por (suas) posições políticas”.
Diferem, nesse sentido, da bancada ruralista, unida em torno do problema da propriedade fundiária rural – coisa prática e objetiva: a defesa dos latifúndios, acima de tudo.
Na atual realidade brasileira, essa bancada conquistaria poucas coisas, não fosse apoio de outros parlamentares. Como no caso do acordo, articulado pelo PMDB, que levou Infeliciano à presidência da CDH.
É ai que mora o perigo. E é nisso que Feliciano e seus pares apostam suas fichas.
Vejas as matérias:
Câmara retira de pauta e arquiva projeto da ‘cura gay”;
Feliciano ameaça retaliar Dilma em ano eleitoral se houver interferência na ‘cura gay";
Atuação de evangélicos na Câmara é restrita e dispersa;
Marina diz que Feliciano é criticado 'por ser evangélico, e não por posições políticas'.