Segundo pesquisas, 21,3% dos acidentes com motos envolvem o uso de drogas ilegais ou álcool |
Que os acidentes de trânsito são de matar, isso todo mundo sabe. Principalmente no Brasil. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), nosso país ostenta o 5° lugar mundial entre os trânsitos mais violentos do mundo. Números apontados pelo sistema de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT), indicam que são 150 mortes por dia em todo o país. Isso resulta na bagatela de 54.00 almas enviadas ao além, quem sabe prematuramente, todos os anos.
Outro importante levantamento, realizado pelo Instituto Sangari, especializado em pesquisas científicas, aponta que o Brasil é o segundo país do mundo em mortes em acidentes de motos. Nos últimos 15 anos a taxa de mortalidade em acidentes com os veículos sobre duas rodas aumentou cerca de 846%, enquanto a de carros, com suas saudáveis quatro rodas, cresceu apenas 58%. É evidente que tanto num caso quanto no outro, o trânsito é um inferno. Mas, no caso no que se refere às motos, é evidente que o capeta é mais sedutor e mais guloso.
Além de aumentar as estatísticas de mortes e acidentes no trânsito, esses aventureiros também causam um rombo aos cofres públicos. Somente no estado de São Paulo, o SUS gasta cerca de 57 milhões de reais a cada ano para com as vítimas graves de acidentes. O Ministério da Saúde garante que cada paciente internado por seis meses em um hospital custa qualquer coisa a partir de 300 mil reais. Todos os dias vemos nos telejornais e nos impressos notícias sobre o assunto. Mostram ousadias e imprudências flagradas ao vivo. Gente sem cinto de segurança, motoristas que não sinalizam com antecedência ao fazer manobras, pilotos de Fórmula 1 em vias locais. Nem assim eles aprendem.
Minha velha amiga Dona Etelvina, sem querer, entrou para essas estatísticas, como vítima indireta. Afinal, sofrimento pelos outros também conta. Segundo ela, seu sobrinho Wandercleif (juro que é assim que se escreve) foi praticamente morto num acidente de trânsito, e com moto. Ele e seus chegados bebiam latas, cascos, copos e o que mais houvesse pela frente, devidamente embalados pelo ritmo pagodeiro do Zeca e outros igualmente competentes, quando, não mais que de repente, acabaram os limões. Partiram ele e Heitor das Moças, acelerados, antes que o mercado fechasse. Ele no guidom, Heitor na garupa. Na volta, foram parar na UPA JK, nosso único Pronto Socorro central até o momento, por conta de um cachorro bandido que atravessou a pista sem obedecer ao sinal. Em lágrimas, e do fundo de sua angustia, Dona Etelvina me contou toda a história de dor e desespero familiar a que foram submetidos.
– Dotô, cheguei no JK e não tinha médico cubano que desse conta daquilo. Era estropiado pra tudo que é lado. Sexta à noite e fim de semana é assim mesmo. Só dá maluco. Graças a Deus não era nada demais. Só o braço quebrado. O Heitorzim nem isso. Só umas esfoladuras aqui e ali.
– Menos mal, respondi. Que bom que os dois não tiveram nada nada mais grave...
– É. Mas sabe qual foi a primeira coisa que o Wandercleif me perguntô quando me viu?
– Me conte, Dona Etelvina...
– “Acharo os limão?” Pode uma coisas dessas, dotô?
Realmente, eles não aprendem.