Liberdade de imprensa no Brasil é ameaçada pelo próprio jogo da imprensa
A ONG Repórteres Sem Fronteiras publicou, neste inicio de ano, um relatório sobre o cenário da imprensa no mundo.
O Brasil mereceu um alentado capítulo à parte e os dados divulgados revelam um quadro esdrúxulo.
Segundo o relatório, o país caiu, mais uma vez, no ranking mundial da liberdade de imprensa. Em 2011, já havíamos perdido 41 posições no ranking e, ano passado, perdemos mais nove posições: despencamos para a 108ª colocação entre 179 países avaliados. Hoje, países como a Libéria, Uganda, Paraguai e Guine Bissau estão melhor posicionados que o País no ranking.
Ano passado, cinco jornalistas e blogueiros foram assassinados, colocando o Brasil no quinto lugar dos países mais mortíferos. Dois jornalistas reputados por seus conhecimentos sobre questões de segurança pública também tiveram que se exilar. A campanha das eleições municipais de outubro de 2012 multiplicou os casos de agressões e de ataques cometidos contra os meios acusados de estar ao serviço de seus proprietários e políticos locais.
Este é um lado da moeda.
O outro é a extrema concentração dos grande veículos nas mãos de uns poucos e os laços entre esses proprietários e o poder público, especialmente nos estados. Dez companhias de origem familiar dominam a mídia nacional, quase todas com base em São Paulo e no Rio de Janeiro. O maior problema, diz a organização Repórteres Sem Fronteiras, é a figura do "magnata da imprensa", que está na origem da grande dependência da mídia em relação aos centros de poder. Quer a imprensa escrita quer a mídia audiovisual se mantêm sob a tutela financeira das instituições ou organismos públicos. Esse quadro tem permanecido inalterado nas últimas três décadas - desde o fim da ditadura militar.
No Brasil, meia duzia de jornalões falam o que bem entendem e lutam contra qualquer tentativa de regulamentação, em nome da liberdade de imprensa.
Enquanto isso, a imprensa regional está exposta a ataques, violência física contra seus funcionários e ordens judiciais de censura, que atinge inclusive os blogs.
O título dado pela Repórteres Sem Fronteiras ao capítulo sobre a liberdade de imprensa no país é: “Brasil, o país dos trinta Berlusconis”, em referência ao capo italiano que domina a mídia e boa parte da política no seu país. Faz todo sentido.
Acesse o ranking mundial da liberdade de imprensa.
Acesse sobre o Brasil no site da ONG Repórteres Sem Fronteiras.
Acesse o relatório Brasil, o país dos trinta Berlusconis.