quarta-feira, 19 de junho de 2013

A história reclama urgência

A periferia veio para o centro,
sinais do novo Brasil.
A classe média quer mais – e mais rápido
Entre os meios de comunicação e lideranças políticas (partidárias, sindicais e dos movimentos em geral), Dilma é vista como pessoa de pouca prosa. Não conversa, dizem. Não faz política, reclamam. Eu mesmo compartilho parcialmente dessa opinião.
Entre os conservadores e representantes do mercado, a presidenta é vista como intervencionista e ideológica demais. Peitou os bancos, por exemplo. Peitou os rentistas. Peitou as concessionárias de energia elétrica.
Dilma se manteve firme na manutenção de macro políticas capazes de ampliar a geração de empregos e a inclusão social. Ao mesmo tempo, chamou às falas o setor produtivo, sem deixar de lhe oferecer a mão. As desonerações e a redução drástica das taxas de juros são exemplos.
Sua performance pessoal e seu governo são amplamente aprovados pela população, como mostram as pesquisas mais recentes.
E eis que, de repente, é vaiada e uma onda de protestos varre o país com uma pauta de demandas que vai de um a tudo, depois de iniciar focada na questão das tarifas de passagens no sistema de transporte coletivo de São Paulo.
Como entender isso?
Acredito que estava demorando a acontecer.
O Governo Federal, nas mãos de Dilma não-conversa-mas-faz,vinha sofrendo um duro isolamento entre os grandes meios formadores de opinião.
A julgar pela cobertura midiática, a situação econômica do país estaria à beira do penhasco. No Congresso Nacional, a bancada de situação virou peça de ficção, a começar pelo comportamento do PMDB – diretamente responsável pela articulação que levou Marcos Feliciano à presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. A bancada evangélica, uma minoria conservadora e que nem de longe expressa o tamanho dos evangélicos no país, conseguiu ocupar o centro da cena com a Cura Gay. Há o famigerado “Estatuto do Nascituro”. Há a PEC 37. A queda de braço em torno da destinação dos royalties do petróleo para a área da Educação continua.
O Governo Federal vai apanhando calado. A política de comunicação não funciona, como postei aqui recentemente. Os movimentos sociais, digamos, clássicos – com suas clássicas bandeiras plenamente incorporadas no plano de realizações, calaram-se e viraram fiscais de obras. Isso vale, inclusive, para o PT que vacilou frente ao movimento, sem saber como tratá-lo.
Ao mesmo tempo, o país bate cabeça para superar um atraso histórico, fruto de um histórico projeto nacional elitista, ainda presente e forte nos centros de tomada de decisão.
Estava na hora de alguém fazer alguma coisa. E a nova “classe média” fez. Aproveitou o momento propício oferecido pela Copa das Confederações e o anúncio do aumento das passagens em São Paulo e foi às ruas. Tomou uma porrada da polícia de Geraldo Alckmin e, então, acordou. Se encheu de brilho e raça. Foram-se os tempos quando a banda tocava assim, responderam. A ditadura acabou.
Acima de qualquer outra coisa, esse movimento é produto do novo Brasil, inaugurado com Lula, mas que vem sendo construído a décadas pela ação das forças progressistas desse país.
Ninguém entre os protestantes levantou a voz para criticar as reformas que estão sendo realizadas no país desde 2003. Pelo contrário. Os filhos e filhas da nova classe média querem é que as reformas sejam aprofundadas. Batem na direita do espectro político. Fortalecem Dilma, ainda que não a elogiem. Tudo bem.
Os sintomas de uma nova politização global estão por toda a parte.
Seria uma anomalia se não fosse assim, num mundo que engendra uma nova ordem para as próximas décadas.
Ontem, em pronunciamento, Dilma estendeu a mão ao movimento. Há de se esperar que tenha sido o primeiro gesto de recomposição da força política e social que tem feito o Brasil andar para a frente.
Recomendo, fortemente, a leitura de três artigos divulgados ontem sobre o assunto.
Acesse As ruas fazem soar alarme para o PT e o governo, de Breno Altman.
Acesse "Por que o Brasil e agora?", pergunta o El País, de Juan Arias.
Acesse Saturação e projeto, de  Saul Leblon.