quinta-feira, 13 de junho de 2013

O que os jovens pobres pensam das escolas?

Estudantes no Ensino Médio não veem sentido em muitos dos conteúdos ensinados
O Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – Cebrap, acaba de publicar um interessante estudo sobre a relação entre os adolescentes e o Ensino Médio. O levantamento, feito em 2012, envolveu jovens de 15 a 19 anos, que cursam ou cursaram o Ensino Médio por pelo menos seis meses, oriundos dos setores censitários 40% mais pobres de São Paulo e do Recife.
O estudo foi organizado em torno de três perguntas principais: quem são os jovens de baixa renda
que conseguem chegar ao Ensino Médio? Quais são suas percepções e atitudes sobre esse nível de ensino? Como elas influenciam, ou não, sua trajetória educacional?
A pesquisa mostra um forte descompasso entre a realidade da escola e aquela vivida pelos adolescentes fora do ambiente educacional, além de uma forte falta de consenso quanto aos objetivos do Ensino Médio: se ele deve formar para o ingresso na universidade ou para o mercado de trabalho.
Entre as principais conclusões:
  • Apesar da evolução dos indicadores observada na última década, pouco mais da metade dos jovens de 15 a 17 anos cursavam o Ensino Médio em 2011 , segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD;
  • Um em cada cinco jovens de 18 a 24 anos não trabalhava nem estudava;
  • Os indicadores de desempenho escolar continuam muito baixos e avançam lentamente;
  • Os níveis de evasão são elevados e 37% dos alunos do Ensino Médio brasileiro frequentam o ensino noturno,com frequência em condições de infraestrutura inadequada;
  • O jovem residente em áreas com elevada concentração de famílias de baixa renda e que conseguiu ingressar no Ensino Médio forma uma espécie de elite na base da piramide: sua família tende a ser menos pobre; há uma significativa presença, em seu domicílio de bens de consumo modernos, como o computador e o celular ligado à internet; grande parte cursou o Ensino Infantil e surpreende a concentração de indivíduos de religião evangélica;
  • Esses jovens querem trabalhar. Para a média dos entrevistados, 17 anos é a idade ideal para ingressar no mercado de trabalho;
  • O abandono do Ensino Médio, embora continue influenciado por indicadores clássicos ( idade, repetência, experiência de trabalho, gravidez e escolaridade do pai) também é determinado pela percepção do aluno quanto à utilidade e qualidade da escola;
  • É elevada a proporção de alunos que não gostam e não veem utilidade em muitas das disciplinas oferecidas. Para a maioria dos entrevistados, apenas Português e Matemática têm utilidade;
  • A escola é percebida, pelos alunos, como um local relativamente desorganizado e inseguro;
  • Embora os professores sejam percebidos como preocupados com os alunos e com aprendizagem, também são vistos como ausentes – faltam demais ao trabalho;
  • As relações de sociabilidade ( amizades) tendem a ser o aspecto mais importante na experiência escolar.
Com base nestas, e outras constatações, a pesquisa aponta um quadro de crise Ensino Médio brasileiro em três diferentes dimensões: a) a persistência de um modelo relativamente elitista de ensino; b) estagnação dos indicadores de cobertura e desempenho, currículo muito extenso e fortes dificuldades de gestão; e c) a escola pública tem dificuldade para lidar com as diversas culturas juvenis e, particularmente, em atribuir sentido aos conteúdos oferecidos aos jovens de baixa renda.
Acredito ser um ótimo material para a reflexão de professores e gestores escolares.
Baixe o relatório completo da pesquisa O que pensam os jovens de baixa renda sobre a escola.
Baixe a edição especial da revista Nova Escola, com conteúdo exclusivo sobre o assunto (não está disponível nas bancas).