sexta-feira, 7 de junho de 2013

O amor está no ar

A nova geração de idosos, ao invés de se trancar em casa, quer sair e, sem dúvida, se enamorar
Um antigo ditado diz que a ocasião faz o ladrão. Sem tomar a coisa ao pé da letra, há que se reconhecer que é um ditado espertinho. O quesito oportunidade é uma das variáveis condicionantes das ações humanas, sociologicamente falando.
Lembrei disso porque é junho e por causa de Dona Etelvina, é claro. Minha vizinha anda rueira como nunca e ultra bem humorada. Tornou-se assídua frequentadora das academias de ginástica abertas pela Prefeitura e diz, com um olhar meio sapeca, que está cuidando da saúde e do “corpitcho”.
Quem não conhece essas academias, devia conhecer. Bem equipadas, são seguras, gratuitas e oferecem uma excelente oportunidade para as pessoas praticarem exercícios físicos e cuidarem da saúde. Mas, principalmente, estão se tornando pontos de encontro, ou seja, locais para o estabelecimento de relações sociais regulares. Encontros regulares são, como se sabe, uma oportunidade necessária para a criação de vínculos afetivos – entre eles, os de natureza romântica.
Pois muito bem. Das cinco Academias da Cidade já existentes, minha vizinha frequenta três: a da Praça da Glória, a da Firmo de Matos e da Gil Diniz. Eu achava isso meio estranho devido à distância entre uma academia e outra. Mas entendi tudo quando ela veio pedir minha opinião sobre presentes para o dia dos namorados – três presentes. Claro que fui discreto e, apesar da curiosidade imensa, nem perguntei se os mimos seriam destinados a três homens diferentes. Suspeito que eram.
A verdade é que namorar é muito bom. O namoro é uma atividade física, mental e emocional que, além de óbvios benefícios psicológicos, ajuda a combater problemas de pele, de circulação, das articulações, e muitos outros. Mas, no caso da chamada terceira idade, isso ainda é problemático já que as cidades, em geral, não criam os espaços necessários a que essas pessoas possam levar uma vida ativa. A nova geração de idosos, ao invés de se trancar em casa, quer sair, se divertir, produzir e, sem dúvida, se enamorar. Isso explica a existência de uma forte demanda por iniciativas voltadas para terceira idade, tanto na área pública quanto privada. Esses espaços, mais que da saúde dos indivíduos, ajudam a saúde do meio urbano.
Ah, sim! Antes que eu esqueça, Dona Etelvina também ganhou presentes no dia dos namorados. E, se querem saber, foram mais de três.
Ps: Publicado originalmente em junho de 2010, na Revista PontoCon. Na ocasião, o programa Academias da Cidade, criado pela então prefeita Marília Campos, começava a deslanchar. Ao final de 2012, haviam 44 academias em funcionamento na cidade.