Politizados e de bem com o país, eles buscam mais mudanças |
Não li a revista Época desta semana, nem assisti ao Fantástico no último domingo. Por isso, comi mosca em relação ao Ibope. Me redimo com este post.
O Ibope realizou pelo menos três pesquisas. Uma encomendada pela revista Época (com apoio da Confederação Nacional dos Transportes – CNT), uma segunda encomendada aparentemente pela TV Globo e uma focada apenas nos internautas.
Quanto à metodologia, são pesquisas bastante distintas daquelas que divulguei no post anterior e realizadas pelos institutos Datafolha, Data Popular e Innovare. A começar pela abrangência.
Na pesquisa encomenda por Época, o Ibope entrevistou 1.008 pessoas nas 32 capitais e outros 68 municípios em todo o país – a maioria com mais de 100 mil habitantes. Mas também foram ouvidas pessoas de cidades pequenas (com até 10 mil moradores), além de serem respeitadas as classificações tradicionais por sexo, faixa de renda, grupos etários e escolaridade. Trata-se, portanto, de pesquisa abrangente que capta a opinião de brasileiros e brasileiras sobre os protestos. Inclusive de quem não tem participado das manifestações.
Na pesquisa divulgada pelo Fantástico foram ouvidos 2002 manifestantes de oito capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Fortaleza, Salvador e Brasília). A amostragem também respeitou os recortes tradicionais quanto ao gênero, faixa etária, escolaridade e renda. Mas, além disso, aferiu se o entrevistado trabalha e/ou estuda.
Finalmente, o Ibope ouviu 1.775 internautas cadastrados CONECTAí (painel online do IBOPE Inteligência), em todo pais, entre os dias 15 e 17 de junho.
As três pesquisas trazem uma imensa quantidade de informações novas , mas não alteram o diagnóstico geral assentado pelos outros institutos.
A principal conclusão dessas enquetes, assim como das outras, é que os jovens estão muito interessados em política, mas não confiam nas instituições políticas tradicionais e buscam outras formas de participação. No momento, protestar parece ser o único meio possível.
Vamos aos dados.
Uma maioria satisfeita com o Brasil
A maioria está satisfeita com as condições de vida no país, inclusive aqueles que são favoráveis às manifestações. Entre os entrevistados, 71% se declaram satisfeitos, percentual que cai para 69% entre os que são a favor do movimento. A maioria também é otimista em relação ao futuro do país (43%), contra 28% de pessimistas. Entre os que apoiam o movimento, esses percentuais são de 39% e 32% respectivamente (Época).
O que precisa mudar?
Esta satisfação, entretanto, não significa que está tudo bem. Entre os internautas, 83% acreditam que o Brasil passa por uma fase crítica em que mudanças políticas são necessárias. Já na pesquisa contratada pela Época, o Ibope perguntou quais seriam hoje os maiores problemas do Brasil e obteve as seguintes respostas, pela ordem: saúde (78%), segurança pública (55%), educação (52%), drogas (26%), combate à corrupção (17%), miséria (11%), geração de empregos (10%), custo de vida (9%), impostos e taxas (8%), salários (7%) e habitação (4%). Isso explica porque a maioria da população brasileira (75%) apoia a onda de protestos.
Forte interesse por política
No caso da pesquisa divulgada pelo Fantástico, e que envolveu apenas os manifestantes, 61% dos entrevistados têm muito interesse em política, e 28% um interesse médio. No total, 89% dos jovens manifestam interesse por política, contra apenas 11% com pouco ou nenhum interesse.
Desconfiança quanto às formas clássicas de organização política
Na pesquisa do Ibope divulgada pelo Fantástico, 89% dos entrevistados não se sentem representados por partido algum, e 83% não se sentem representado por político algum. Do total de entrevistados, 96% não são filiados a partidos, e 86% não pertencem a qualquer sindicato, organização estudantil ou outra entidade classista.
A desconfiança em relação aos governos atuais
Na pesquisa divulgada por Época, os entrevistados foram convidados a dar notas variáveis de 0 a 10 para a presidenta Dilma, prefeitos, vereadores, deputados e senadores. Essas notas foram divididas em faixas: de zero a seis, de sete a oito e de nove a dez.
Alguns colunistas deram destaque à primeira faixa, onde Dilma aparece na pior colocação. Para 54% dos entrevistados, ela está neste intervalo, do mesmo modo que a maioria dos prefeitos, governadores, vereadores, senadores e deputados estaduais e federais.
Todavia, Dilma tem as melhores avaliações nas notas entre sete e oito, e entre nove e dez.
Ou seja, é preciso ponderar a média das avaliações.
Nesse caso, a presidenta até que se saiu bem, com nota média de 5,8. Em segundo lugar ficaram os governadores, com 5,4 em média. Mas senadores, deputados federais e estaduais, e vereadores amargaram notas médias abaixo de 4.
Tímidas esperanças nas mudanças
Essa desconfiança generalizada pode ser confirmada nas expectativas quanto aos resultados do movimento, embora os números sejam contraditórios. No Fantástico, 94% declararam acreditar que os protestos conseguirão produzir as mudanças pretendidas. Já para a Época, apenas 26% dos entrevistados afirmaram acreditar em muitas mudanças. Esse percentual é maior entre os que apoiam as manifestações: 32%. Para 47%, trarão poucas mudanças, percentual que chega a 51% entre os que apoiam o movimento.
Como fazer? A importância dos protestos
Para 59% os entrevistados em todo o país, incluindo quem não participou dos protestos, as manifestações públicas são a melhor maneira de se cobrar uma melhor atuação dos governos. Outros 37% que acreditam que existem meios “mais adequados” para cobrar melhorias (revista Época).
Indagados sobre o que mais fariam além de participar de manifestações para expressar o “descontentamento da população”, 82% dos entrevistados afirmaram que não votariam em um candidato corrupto. Em segundo lugar, com 32% das citações, aparecem os boicotes contra preços elevados, e as ações judicias com 11%. A hipótese de golpes ou qualquer mudança drástica do regime político sequer é mencionada (Fantástico).
A conclusão é clara. Enquanto os políticos, eleitos pelo voto, não se fizerem acreditar, não há outra saída senão reclamar, do jeito que for possível.
Vale violência? Do lado de lá não
Em todas as pesquisas, os entrevistados reconhecem que houve violência excessiva durante as manifestações e de parte a parte – tanto da tropa quanto dos manifestantes.
Entretanto, aparentemente, o uso de violência por parte dos manifestantes é mais tolerado. Para 66% dos entrevistados as depredações jamais são justificadas e 28% acreditam que elas são justificáveis, dependendo das circunstâncias (Fantástico). Entre os internautas, o comportamento agressivo diminui a legitimidade da Polícia (59%), mas não a legitimidade dos protestos (58%).
Acesse a pesquisa Ibope/Fantástico.
Acesse a matéria completa da pesquisa Ibope/Época.
Acesse a apresentação da pesquisa Ibope/Época preparada pela CNT.
Acesse o o relatório completo da pesquisa Ibope/Época, no site do Ibope.
Acessa a pesquisa do Ibope com os internautas.