segunda-feira, 24 de junho de 2013

Quem são e o que querem os manifestantes que saíram do Facebook para protestar nas ruas

Pesquisas vão revelando jovem politizado, progressista e autoconfiante
Progressistas, democratas e
descrentes com as instituições
tradicionais
Até onde sei, até agora, três institutos realizaram pesquisas buscando apurar o perfil dos jovens que tem comparecido aos protestos que ocorrem por todo o país.
Os institutos são o Datafolha, que vem realizando seguidas enquetes durante as manifestações na capital paulista; o Data Popular que divulgou na sexta-feira (21), uma pesquisa chamada “O novo poder jovem” realizada dias antes do início dos protestos em São Paulo e o mineiro Innovare, que entrevistou manifestantes concentrados na Praça Sete, no dia 22.
Apesar da limitação do universo investigado (apenas jovens das cidades de São Paulo e de Belo Horizonte), acredito que seus resultados jogam alguma luz sobre nossa compreensão dos corações e mentes dessa parcela da sociedade que representa mais de 42 milhões de eleitores brasileiros ou 33% do total.
De forma geral, a meu ver, os números apresentam resultados tranquilizadores.
Os jovens revelam uma leitura muito própria da realidade brasileira. No olhar deles, as instituições tradicionais de representação (e de manutenção da ordem), merecem pouca ou nenhuma confiança. Isso vale especialmente para o sistema partidário – políticos, partidos, Congresso e a própria presidência da República.
Isso não significa que sejam de direita ou golpistas. Suas causas e valores estão localizadas no espectro da centro-esquerda, são progressistas e acreditam no voto.
São muito confiantes em si mesmos e querem assumir a posição de protagonistas na história.
Pertencentes à chamada Geração Y (a geração da Internet) são ultra conectados e sofrem, como quase todo brasileiro, o drama diário que é viver em um grande centro.
Resumo aqui algumas conclusões com base nos números.
Do centro para a esquerda. Direita não.
De acordo com o Instituto Datafolha (pesquisa realizada na última quinta-feira, dia 20), a maioria dos jovens paulistas está majoritariamente ao centro (31%) e à esquerda (22%), o que se traduz, de acordo com o instituto, nas posições que defendem: 88% deles são contrários à adoção da pena de morte, ao porte de armas e aceitam o homossexualismo.  É muito significativo que os extremos liberais sejam amplamente majoritários sobre os extremos conservadores: 32% para os primeiros, contra apenas 2% para os últimos.
Fonte: Instituto Datafolha

Golpismo? Melhor o voto
Ainda o Datafolha, na pesquisa do dia 20, mostra que para 87% dos manifestantes a “democracia é sempre melhor que qualquer outro”. Apenas 5% dos entrevistados acham que “em certas circunstâncias, é melhor uma ditadura do que um regime democrático”, enquanto para 4% tanto faz e 3% não souberam responder.
Já na pesquisa “O novo poder jovem”, do Data Popular, 65% dos ouvidos disseram acreditar que podem melhorar a política brasileira por meio do voto.
Fonte: Folha de São Paulo
Confiança nas instituições: pouca, muito pouca
O Datafolha, em pesquisa realizada no dia 19 último (quarta-feira) constatou que, pelo menos entre a juventude paulista, as instituições públicas tradicionais amargam uma forte falta de credibilidade.
Para 82% dos entrevistados, o Congresso Nacional goza de pouco em nenhum prestígio. Desse 42% afirmam que o Congresso não tem prestígio algum. Apenas 12% acreditam que o Congresso tenha muito prestigio. Os partidos políticos também tomam bomba, com 79% de descrédito ( para 44%, o Congresso não tem prestigio algum). Os partidos e o Congresso são as instituições com os piores resultados.
No caso do Poder Judiciário, 71% dos jovens paulistas consideram desprestigiado, contra apenas 20% que responderam favoravelmente.  Os sindicatos amargam 75% de descrédito. As Forças Armadas idem, com 67%.
Saem-se bem as redes sociais, com uma credibilidade de 61% – taxa estranhamente igual à da imprensa. Em um distante segundo lugar, entre as instituições mais cotadas, está a Igreja Católica com 35% de “muito prestígio”.
O levantamento do Datafolha guarda semelhanças com a pesquisa do Data Popular que indaga quanto à confiança dos jovens em algumas instituições para garantir seu futuro. Eis os números, de acordo com a BBC Brasil ( o Data Popular não publicou a pesquisa em seu site): 75% deles não confiam nos parlamentares e 59% deles não confiam na Justiça.
Sem preferência partidária, mas sem rejeitar partidos
Em Belo Horizonte, 78% dos manifestantes não se identificam com nenhum partido brasileiro. A maior rejeição vai para o PSDB, com 25,2% de antipatia e o PT com 23,7%, de acordo com a pesquisa do Innovare. Entre os que têm alguma preferência, ainda em Belo Horizonte, 9,3% dos entrevistados optam pelo PT e apenas 2,0% pelo PSDB. Do total de entrevistados, 26,4% rejeitam qualquer partido político.
Fonte: Innovare
Em São Paulo, o Datafolha divulgou que 84% dos presentes à manifestação do dia 18 não têm preferência por partidos. Mas, o instituto também apurou (e não divulgou como informação) a preferência partidária entre os manifestantes. Este conhecimento só é possível pela análise dos dados brutos da pesquisa. Do total de 805 entrevistados, 172 se declararam simpáticos ao PT (21% do total), contra 57 que declararam opção pelo PSDB (7%).
O Datafolha apurou, mas não  divulgou, a preferência partidária dos manifestantes
Motivos para o protesto: todos os possíveis
Como ficou transparente nas próprias manifestações, os motivos para a participação nos protestos variaram intensamente, formando uma pauta genérica e demasiadamente ampla. Em São Paulo, conforme o Datafolha, 67% dos paulistanos disseram que o motivo que levou cerca de 65 mil pessoas a protestarem em São Paulo, no dia 13, foi o aumento no preço das passagens do transporte municipal. Para 38%, as pessoas foram às ruas protestar contra corrupção. Para 35%, o protesto foi contra os políticos. Aparecem ainda como motivos a reivindicação de mais qualidade no transporte (27%) , mais segurança (20%), contra a violência ou repressão da polícia (18%), pela tarifa zero ou passe livre (14%), pela saúde (7%), contra gastos com Copa das Confederações ou Copa do Mundo (5%), pela educação (5%), pelo salário mínimo ou salário (1%) e para fazer bagunça ou baderna, entre outros motivos menos citados. Como cada pessoa pode mencionar mais de um motivo, a soma das respostas é maior do que 100%.
Já no dia 18, ainda em São Paulo, o protesto contra o aumento da passagem foi citado por 57%, seguido respostas contra corrupção (40%), contra a violência e repressão da polícia (31%), por um transporte público de melhor qualidade (27%) e contra os políticos (24%), entre outras.
Em Belo Horizonte, a Innovare chegou a um resultado inusitado. Apenas 8,0% dos entrevistados acreditam que o maior problema seja o transporte coletivo – causa primeira das manifestações. A Segurança pública aparece com 8,2% de respostas. Pela ordem de importância, os três maiores problemas identificados pelos jovens são: Educação (26,9%), Saúde (também com 26,9%) e a corrupção com 15,8%.
Principal fator para sua vida melhorar
Essa questão foi apresentada aos entrevistados pelo Instituto Data Popular. Do total, 53% responderam que o próprio esforço é o principal fator para sua vida melhore. Deus vem em segundo lugar, com 31% das citações e a família em terceiro, com 11%. As ações governamentais foram lembradas por apenas 2% dos entrevistados.
Perfil dos participantes
No caso da manifestação ocorrida dia 22, em Belo Horizonte, 80% dos presentes residem na cidade de Belo Horizonte, os demais 20% são moradores de alguma cidade da Região Metropolitana ou em uma cidade do interior do Estado. Mulheres e homens participaram das manifestações na mesma proporção, informa o Innovare.
A maioria era de jovens (54,5%) com menos de 25 anos. Somente 26,5% deles declararam possuir mais de 40 anos de idade. A escolaridade média dos entrevistados é elevada, quando comparada com a média da população brasileira. Cerca de 33,0% deles possuem curso superior e outros 32,0% possuem curso superior incompleto. A grande maioria faz parte da População economicamente ativa (70,7%), contra 20,8% dos que apenas estudam. Finalmente, metade dos entrevistados possuem uma renda familiar, somando-se os rendimentos de todos os membros da família, abaixo de 5 salários mínimos mensais.
Em São Paulo, a pesquisa do Datafolha apurou que 61% dos participantes na manifestação do dia 20 eram homens e 39% mulheres. A maior parte dos manifestantes tem entre 21 e 35 anos (30% até 25, e 35% até 35). Já 23% têm entre 12 e 20 anos, 8% entre 36 e 50 e 4% têm 51 ou mais. Sobre escolaridade, 78% dos manifestantes da Av. Paulista têm Ensino Superior, 20% Médio e apenas 2% Fundamental.

Principais meios de informação
Em Belo Horizonte, os participantes obtêm informações sobre as manifestações através das redes sociais. O Facebook com 69,9%, a internet com 66,7% são os meios de informação mais utilizados pelos manifestantes. A  TV fica  com 37,4%.
O mesmo ocorreu em São Paulo, onde 81% se informaram do ato do dia 18 pelo Facebook. No total, 85% dos presentes buscaram informações pela internet.
Acesse a pesquisa completa do Instituto Datafolha para o dia 18.
Acesse a pesquisa do Instituto Datafolha para o dia 20, no site da Folha de São Paulo.
Acesse a pesquisa do instituto Innovare.
Acesse a pesquisa do Instituto Data Popular no site da BBC Brasil.