No Brasil, a minoria elitizada rejeita e jamais entenderá o sistema de cotas Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr |
Pesquisa realizada pelo Ibope mostra que 62% da população brasileira é a favor da política de cotas nas universidades públicas, seja para negros, pobres ou alunos da escola pública. Apenas 16% dos entrevistados se declaram contra contra qualquer tipo de cota.
A oposição radical às cotas tende a ser maior entre brancos das classes de consumo A e B, que cursaram faculdade e, em geral, moradores das capitais e das Regiões Norte e Centro-Oeste. O apoio à política de cotas nas universidades públicas, por outro lado, é bem mais forte entre quem estudou da 5.ª à 8.ª série, entre os emergentes da classe C, entre nordestinos e moradores de cidades do interior do País.
A partir dessa diferenciação de perfis entre os que são totalmente a favor e os totalmente contrários, os pesquisadores do Ibope concluem que a oposição vem dos que “chegaram lá” sem o “favorecimento” das cotas. Seriam talvez intrépidos vencedores que não dependem das benesses estatais.
Penso diferente.
Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea, publicado ano passado, indica que a escolaridade dos pais dos estudantes universitários brasileiros, é relativamente alta em relação ao total da população.
O Ipea mostra que 64,6% desses estudantes têm pelo menos um genitores com ensino superior. Em 12,3% dos casos, o pai tem pós-graduação, percentual que chega a 15,4% no caso das mães. Esses dados estão no relatório “Estudo comparado sobre a juventude brasileira e chinesa – Dados preliminares do Brasil”.
Ou seja, “chegaram lá” sim, sem o beneficio das cotas mas com apoio e estímulo familiar. A regra geral não é essa.
Esse grupo minoritário no pais tem desfrutado, em modo perpétuo, do acesso à universidade. É formado principalmente por pessoas das chamadas classes A e B de consumo. Reproduz a ideologia da elite brasileira que resiste e continuará resistindo a qualquer forma de redução das desigualdades. Não há forma de mudar a consciência deles. Será necessário mudar a própria elite nacional.
Outro destaque importante na pesquisa diz respeito à resistência quanto às cotas para negros – sempre lembrando que a identidade de cor, hoje, no Brasil, é autodeclarada. A população tende a concordar mais com as cotas nos casos dos pobres (77%) e para os alunos das escolas públicas (77%). No caso dos negros, apenas 64% apoiam.
O mesmo ocorre entre os 5% que não souberam responder ou que se declararam parcialmente favoráveis. Entre esses, 12%, por exemplo, defendem cotas para alunos pobres e para alunos da rede pública, mas são contrários às cotas por motivo de cor.
É outro traço da ideologia dominante, esse bem mais arraigado.
A pesquisa foi realizada pelo Ibope a pedido do jornal O Estado de S. Paulo e divulgada no domingo (17). Mas ainda não está disponível no site do instituto de pesquisas.
Acesse a matéria no Estadão.
Acesse a íntegra a pesquisa - Estudo Comparado sobre a Juventude Brasileira e Chinesa (Dados preliminares do Brasil), do Ipea.