domingo, 17 de fevereiro de 2013

Uma potência chamada China e uma promessa chamada Brasil

China Star: a potência que abala o mundo
Foto: Bloomberg News
Sobre novos blocos mundiais e aquilo que está por vir
Este será um post longo. Paciência.
A China se tornou, ano passado, a maior potência comercial do mundo. A soma de exportações e importações de bens pelos chineses alcançou US$ 3,87 trilhões, contra US$ 3,82 trilhões comercializados pelos EUA.
São dados oficiais dos dois países, segundo as agências de notícias.
A diferença é pequena. Mas deve aumentar nos próximos anos de acordo com a avaliação de especialistas internacionais, como o economista britânico Jim O’Neill, do Goldman Sachs Group, conhecido por ter criado a sigla Bric em referência às chamadas potências emergentes Brasil, Rússia, Índia e China.
China, a próxima super potência
O’Neill tem afirmado que a China está se tornando o parceiro bilateral mais importante de muitos países. Ele diz que, até o fim da década, a maioria países dos europeus estará mantendo mais trocas comerciais individuais com os chineses que entre si. É o caso da Alemanha. A pátria de Karl Marx deverá exportar para a pátria de Mao Tse Tung, até 2020, duas vezes mais do que vende  para a França, pátria de Asterix.
Isso ainda não faz da China a maior potência econômica mundial. A economia americana tem o dobro do tamanho da chinesa. Em 2011, o Produto Interno Bruto – PIB norte-americano alcançou US$ 15 trilhões, contra US$ 7,3 trilhões somados pelos chineses.
Mas isso também pode mudar.
Projeções da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE apontam para uma mudança radical no equilíbrio econômico mundial no próximo meio século.
A OCDE acredita que em 2030, a China e a Índia terão, juntas, economias maiores do que a soma das economias dos Estados Unidos, zona do euro e Japão. A renda per capita da China será 25% maior do que a renda atual dos EUA até 2060. São projeções endossadas por bancos como o  Morgan Stanley e o  Goldman Sachs Group.
A reação norte-americana
Os Estados Unidos e a União Europeia – UE anunciaram esses dias uma reação à ascensão chinesa. O presidente Barack Obama, Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, e José Manuel Barroso, presidente da Comissão Europeia, afirmaram que estão comprometidos com uma relação transatlântica tendo em vista formar a maior zona de livre comércio do mundo.
Um Tratado de Livre Comércio EUA/UE é uma aposta muito boa para saírem da confusão na qual se enfiaram, com consequências para o resto do mundo, desde 2008.
A Ásia, a América Latina e a África, apesar da crise, vão se virando e têm boas perspectivas de crescimento para os próximos anos, dizem todas as agências mundiais. Já a União Europeia, luta para evitar uma recessão duradoura, enquanto os Estados Unidos patinam e seguem perdendo terreno. Há quem diga, como Immanuel Wallerstein, renomado sociólogo estadunidense, que a crise deles pode durar mais uns 40 anos.
Um bloco econômico EUA/UE?
Um Tratado de Livre Comércio EUA/UE tem um potencial imenso. Estamos falando de uma movimentação próxima a US$ 3 bilhões por dia, de metade da produção global e de quase um trilhão de dólares anuais. Estamos falando também do fim da Organização Mundial do Comércio – OMC e, provavelmente, da insolvência de todas as organizações multilaterais do mundo.
Se os EUA e a UE pactuam normas próprias envolvendo certificações e compras governamentais, o resto do mundo não terá, acredito, outra alternativa senão acatar. Afinal, são eles que ditam a moda no que se refere aos avanços científicos e tecnológicos. Nesse quesito, mudanças nos PIBs nacionais pouco importam. Hegemonia é hegemonia e ponto.
Esse processo, é claro, não será simples. Uniformizar as regras para a livre circulação acima do Equador de produtos transgênicos, fármacos,  alimentos, brinquedos, eletrônicos, e demais que tais, entre duas culturas tão diferentes como a norte-americana e a europeia, não será tarefa das mais tranquilas. Os obstáculos são gigantescos. Mas, insisto, é uma boa saída para eles. E a necessidade é sempre um estímulo – ainda mais com o fantasma de olhos puxados esmurrando a porta.
E o Brasil?
A questão é: como o Brasil ficará nessa história? Como a construção dessa nova ordem mundial que virá nos afeta?
Muitos observadores acreditam que, nos próximos 40 anos, o Brasil se tornará uma das cinco maiores potências mundiais. Mas isso depende.
Para chegar lá, precisamos manter os marcos da política desenvolvimentista inaugurada por Lula e continuada por Dilma, enfrentando os gargalos (imensos) que ainda atravancam a construção de uma infraestrutura econômica e social à altura das conquistas que obtivemos nos últimos 10 anos. A impressão que dá, à vezes, é que apenas Dilma sabe disso. A verdade, todavia, é que estamos diante a uma encruzilhada. O futuro está sendo decidido agora. Quem viver verá.
Para fechar: o Itamaraty prometeu para daqui há algumas semanas uma avaliação dos impactos do acordo transatlântico para o Brasil. Aguardemos.