Em visita ao Brasil, a cubana Yoani Sánchez aumentou seu repertório de queixas contra persguições. Foto: Wikipédia |
Há algo estranho sobre Cuba. Paira sobre a velha ilha o mito de Davi e Golias.
Como transcrito no livro de Reis, Golias era um gigante de quase 3 metros de altura e um campeão dos filisteus. Davi, ao contrario, era apenas um rapaz franzino, ungido por Samuel e devotado à causa de Israel.
Apenas com uma funda e algumas pedras, o pequeno venceu o grande e cortou-lhe a cabeça, em nome de Deus. Hosana nas alturas.
A pequena ilha enfrentou e venceu o gigante norte-americano. Sofreu e sofre o preço dessa vitória e se tornou um exemplo, uma referência, um parâmetro, um porto e um pouso. Dela sempre se há de falar com respeito e reverencia. A Cuba, imaginada, consegue ser ainda mais bonita que o amor, como sugeriu Ferreira Gullar, muitas vezes belo e quase sempre equivocado.
Mas nada disso torna Cuba um paraíso. Nada disso faz de Cuba uma Pasárgada. Nada disso torna Cuba uma democracia. Nada disso indica que, em Cuba, não há o que possa ser melhorado.
Regimes fechados são pródigos em criar heróis e mártires. Nem todos devem ser seguidos. Mas isso não os torna menos heróis nem menos mártires para quem os segue. Triste é que heróis ainda sejam necessários, conforme as palavras, creio eu, do revolucionário Tchê Guevara.
Yoani Sánchez, uma cidadã cubana que optou por viver em Cuba e lutar em Cuba, segundo seus critérios, é um exemplo disso. Com seu visto finalmente liberado pelas autoridades cubanas, avessas ao ir e vir das pessoas, virou Mulher Maravilha no Brasil graças à cumplicidade entre a direita peçonhenta e a esquerda infantil.
Bastaram umas dezenas de manifestantes furibundos gritando “traidora” e “viva a revolução!” para abafar o pronunciamento da moça no Museu do Saber, em Feira de Santana (BA), na segunda (18). Lotado, certamente, o espaço não estava. Mas o evento virou notícia.
Parabéns a todos.