segunda-feira, 15 de abril de 2013

O legado de Marília Campos

O economista
José Prata de Araújo
José Prata apresenta um balanço dos oito anos de governo petista em Contagem
Acontece na quinta, dia 25, o lançamento da revista, em quatro fascículos, O legado de Marília Campos em Contagem.
De autoria do amigo José Prata de Araújo, a publicação apresenta um extensivo apanhado das realizações de Marília em seus dois governos.: 2005 a 2008 e 2009 a 2012, cobrindo todas áreas de atuação (saúde, educação, saneamento, urbanização, etc.), além de destacar os investimentos realizados em cada uma das oito regiões administrativas da cidade.
Fossem apenas um levantamento sistemático das ações empreendidas nos oito anos de Marília à frente do governo municipal, as revistas já teriam enorme importância.
Mas Prata vai além.
O texto apresenta um esforço de apreensão da psicologia social hegemônica em Contagem que mescla algo de “cidade do interior” (resultante dos processos migratórios que levaram ao crescimento das regiões metropolitanas e da dependência ainda existente em relação à vizinha Belo Horizonte) com um forte sentimento desenvolvimentista produzido pelo ethos industrializante que tem marcado a vida contagense desde a criação da Cidade Industrial.
É neste contexto que Prata compreende o significado e a importância da reestruturação dos espaços públicos levado a efeito na gestão anterior. Tais espaços começaram a ser pensados e tratados como espaços a serem ocupados de forma planejada e organizada tendo em vista um usufruto multivariado e sustentável com foco no bem estar da população. Em outros termos, o espaço público em Contagem passou a ser melhor utilizado seja para as necessárias atividades negociais - que trazem desenvolvimento econômico, renda, empregos e serviços aos moradores e arrecadação para a Prefeitura - seja para o lazer e a convivência vizinhal (tão valorizada pelos “do interior”) nas praças, parques e outros equipamentos coletivos.
Acrescente-se a esse esforço uma forte ampliação da oferta de serviços públicos básicos cujo acesso é, acredito, a mais importante condição para a fixação dos moradores ao território. Unidades de saúde e escolas próximas das residência, ruas asfaltadas, coleta de lixo, redes de esgotos, transporte público adequado e trânsito fluente, entre outros, são fatores essenciais a um cotidiano que minimize os ônus que as grandes cidades impõem, cada vez mais, a seus moradores em termos de tempo de deslocamento, conforto e segurança.
Como resultado mais geral dessas iniciativas, os oitos anos de governo Marília Campos culminaram com o fortalecimento do orgulho de se morar na cidade, que já existia. Mas, mais que isso, levaram ao despertar de uma nova cultura de ocupação do território e de um sentimento de pertença essenciais à construção de uma identidade local. Ou seja, fortaleceram a ideia de uma cidadania ativa.
Me atreveria a dizer, plagiando frase recente da presidenta Dilma, que esses anos elevaram o patamar de reivindicações da população não apenas por ver satisfeitas velhas demandas e, portanto, vocalizar novas necessidades, mas também, e principalmente, por ter sido incentivada a exercitar direitos de cidadania, exigir e participar.
Acredito que essa nova cultura, que apenas começou a se formar e a se conformar em valores, tenha exercido papel crucial na eleição do ano passado quando a população impôs uma poderosa derrota ao conservadorismo e apostou na continuidade do processo inovador iniciado por Marília.
Essa é a trama (alguns diriam a “narrativa”) sobre a qual Prata ressalta, com paixão e carinho plenamente compreensíveis, o caráter e a personalidade da ex-prefeita como personagem singular. A realização dessa tarefa transformadora só foi possível à medida que Marília assumiu uma atitude protagonista do processo de mudanças abrindo uma linha de contato direto com a população (na ausência dos grandes meios de comunicação de massas), incentivando a mobilização popular e a apresentação de demandas – seja por meios formais, como no Orçamento Participativo ou por meio dos representantes na Câmara dos Vereadores, seja por meios não institucionalizados, como as comissões populares de fiscalização de obras, abaixo-assinados e outros. Marília não se intimidou com a presença do povo na gestão. Ao contrário, abriu canais variados para que essa participação acontecesse. Disso decorre sua alta aprovação popular.
Finalmente, é importante considerar um alerta feito pelo autor. Hoje, Contagem é outra em vários aspectos. A cidade está mais moderna, mais contemporânea e, acima de tudo, mais exigente. Isso acontece justamente num período de viragem da conjuntura nacional que, alimentada pela crise internacional, revela as fragilidades que herdamos dos modelos passados de desenvolvimento. Foi com Lula e, agora com Dilma, que começamos a superar o déficit histórico de desenvolvimento social inclusivo e, por consequência, a enfrentar as lacunas existentes para a construção das bases sociais e da infraestrutura material capazes de sustentar uma democracia e um mercado de consumo de massas.
Contagem, como poucas outras cidades, vive os apertos causados por esse processo. O que José Prata mostra é que vivemos em cidade pobre com fama de rica, que foi governada durante décadas por representantes de oligarquias que alimentaram um forte populismo fiscal e que está prestes a se deparar com novos e maiores desafios para seguir em frente.