O economista José Prata de Araújo |
José Prata apresenta um balanço dos
oito anos de governo petista em Contagem
Acontece na quinta, dia 25, o
lançamento da revista, em quatro fascículos, O legado de Marília
Campos em Contagem.
De autoria do amigo José Prata de
Araújo, a publicação apresenta um extensivo apanhado das
realizações de Marília em seus dois governos.: 2005 a 2008 e 2009
a 2012, cobrindo todas áreas de atuação (saúde, educação,
saneamento, urbanização, etc.), além de destacar os investimentos
realizados em cada uma das oito regiões administrativas da cidade.
Fossem apenas um levantamento
sistemático das ações empreendidas nos oito anos de Marília à
frente do governo municipal, as revistas já teriam enorme
importância.
Mas Prata vai além.
O texto apresenta um esforço de
apreensão da psicologia social hegemônica em Contagem que mescla
algo de “cidade do interior” (resultante dos processos
migratórios que levaram ao crescimento das regiões metropolitanas e
da dependência ainda existente em relação à vizinha Belo
Horizonte) com um forte sentimento desenvolvimentista produzido pelo
ethos industrializante que tem marcado a vida contagense desde a
criação da Cidade Industrial.
É neste contexto que Prata compreende
o significado e a importância da reestruturação dos espaços
públicos levado a efeito na gestão anterior. Tais espaços
começaram a ser pensados e tratados como espaços a serem ocupados
de forma planejada e organizada tendo em vista um usufruto
multivariado e sustentável com foco no bem estar da população. Em
outros termos, o espaço público em Contagem passou a ser melhor
utilizado seja para as necessárias atividades negociais - que
trazem desenvolvimento econômico, renda, empregos e serviços aos
moradores e arrecadação para a Prefeitura - seja para o lazer e a
convivência vizinhal (tão valorizada pelos “do interior”) nas
praças, parques e outros equipamentos coletivos.
Acrescente-se a esse esforço uma forte
ampliação da oferta de serviços públicos básicos cujo acesso é,
acredito, a mais importante condição para a fixação dos moradores
ao território. Unidades de saúde e escolas próximas das
residência, ruas asfaltadas, coleta de lixo, redes de esgotos,
transporte público adequado e trânsito fluente, entre outros, são
fatores essenciais a um cotidiano que minimize os ônus que as
grandes cidades impõem, cada vez mais, a seus moradores em termos de
tempo de deslocamento, conforto e segurança.
Como resultado mais geral dessas
iniciativas, os oitos anos de governo Marília Campos culminaram com
o fortalecimento do orgulho de se morar na cidade, que já existia.
Mas, mais que isso, levaram ao despertar de uma nova cultura de
ocupação do território e de um sentimento de pertença essenciais
à construção de uma identidade local. Ou seja, fortaleceram a
ideia de uma cidadania ativa.
Me atreveria a dizer, plagiando frase
recente da presidenta Dilma, que esses anos elevaram o patamar de
reivindicações da população não apenas por ver satisfeitas
velhas demandas e, portanto, vocalizar novas necessidades, mas
também, e principalmente, por ter sido incentivada a exercitar
direitos de cidadania, exigir e participar.
Acredito que essa nova cultura, que
apenas começou a se formar e a se conformar em valores, tenha
exercido papel crucial na eleição do ano passado quando a população
impôs uma poderosa derrota ao conservadorismo e apostou na continuidade do
processo inovador iniciado por Marília.
Essa é a trama (alguns diriam a
“narrativa”) sobre a qual Prata ressalta, com paixão e carinho
plenamente compreensíveis, o caráter e a personalidade da
ex-prefeita como personagem singular. A realização dessa tarefa
transformadora só foi possível à medida que Marília assumiu uma
atitude protagonista do processo de mudanças abrindo uma linha de
contato direto com a população (na ausência dos grandes meios de
comunicação de massas), incentivando a mobilização popular e a
apresentação de demandas – seja por meios formais, como no
Orçamento Participativo ou por meio dos representantes na Câmara
dos Vereadores, seja por meios não institucionalizados, como as
comissões populares de fiscalização de obras, abaixo-assinados e
outros. Marília não se intimidou com a presença do povo na gestão.
Ao contrário, abriu canais variados para que essa participação
acontecesse. Disso decorre sua alta aprovação popular.
Finalmente, é importante considerar um
alerta feito pelo autor. Hoje, Contagem é outra em vários aspectos.
A cidade está mais moderna, mais contemporânea e, acima de tudo,
mais exigente. Isso acontece justamente num período de viragem da
conjuntura nacional que, alimentada pela crise internacional, revela
as fragilidades que herdamos dos modelos passados de desenvolvimento.
Foi com Lula e, agora com Dilma, que começamos a superar o déficit
histórico de desenvolvimento social inclusivo e, por consequência,
a enfrentar as lacunas existentes para a construção das bases
sociais e da infraestrutura material capazes de sustentar uma
democracia e um mercado de consumo de massas.
Contagem, como poucas outras cidades,
vive os apertos causados por esse processo. O que José Prata mostra
é que vivemos em cidade pobre com fama de rica, que foi governada
durante décadas por representantes de oligarquias que alimentaram um
forte populismo fiscal e que está prestes a se deparar com novos e maiores
desafios para seguir em frente.