terça-feira, 30 de abril de 2013

Brasil em busca de “cérebros”

País precisa de 6 milhões de profissionais estrangeiros, diz SAE
Um dos gargalos que nosso país enfrenta para se afirmar como potência mundial é a falta de profissionais altamente qualificados, especializados e com grande experiência que possam atender a demanda atual da economia brasileira.
Ano passado, a empresa Manpower Group, uma consultoria internacional em soluções empresariais, verificou que o Brasil é o segundo país do mundo em dificuldade para preencher vagas, atrás apenas do Japão. A falta de candidatos disponíveis e a falta de especialização são apontadas por empresários como as duas principais razões do problema. Áreas como medicina, engenharia civil, engenharia química e arquitetura são algumas nas quais o país precisa de mais profissionais do que os disponíveis, aponta levantamento realizado pela Brasil Investimentos e Negócios (Brain), consultoria que realiza pesquisas sobre a inserção do Brasil no mercado internacional e colabora da Secretária de Assuntos Estratégicos da Presidência da República – SAE. Campanhas para atrair médicos estrangeiros para o setor público já existem em diversos Estados brasileiros.
Pesquisas Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea, apontam em direção semelhante, ainda que localizem o problema da falta de profissionais qualificados mais na base da piramide salarial que entre os altos salários.
Um exemplo da alta demanda por mão de obra especializada está na indústria do petróleo. Aquecido com as recentes descobertas de petróleo e gás nos últimos anos, o setor incorporou 49.801 profissionais de países como a Grã-Bretanha, Estados Unidos, Noruega, Holanda e França entre 2010 e 2012, conforme dados da Coordenação Geral de Imigração (CGIg), que faz parte do Ministério do Trabalho em Emprego (MTE). O setor petrolífero é líder na emissão dos vistos para estrangeiros no país, com 25% do total de permissões de trabalho temporárias e permanentes no período.
No caso da industria petrolífera, os profissionais mais procurados são aqueles que lidam com infraestrutura (construção de plataformas de petróleo e sistema de dutos), engenheiros navais, pesquisadores em geologia, entre outros.
Essa carência levou a SAE a elaborar um plano para atração de profissionais estrangeiros que pode chegar a 6 milhões de vistos (entre permanentes e temporários) nos próximos anos, especialmente na áreas de engenharia e saúde.
Não se trata de uma política geral de imigração, esclareceu o ministro-chefe interino da SAE Marcelo Neri em declaração à agência BBC Brasil. É uma estratégia de atração de cérebros que não inclui imigrantes de baixa qualificação e que elevar o número de estrangeiros residentes dos atuais 0,2% da população para 3%.
Pessoalmente, acho positiva essa política embora saiba que ela vai esbarrar na resistência dos sindicatos e associações de classe. Na mesma matéria da BBC Brasil, o presidente da Federação Nacional dos Engenheiros, Murilo Pinheiro, o presidente da Federação Nacional dos Arquitetos, Jeferson Salazar e o presidente da Federação Nacional dos Médicos, Geraldo Ferreira, são categóricos ao afirmar que o número de profissionais formados que ingressam no mercado de trabalho anualmente é suficiente para atender à demanda existente.
Não é essa a questão. O assunto é a qualificação desses profissionais para atender ao nível de exigências que o novo ciclo de crescimento do país impõe.
O governo federal, como se sabe, tem investido na qualificação dos brasileiros, seja nos níveis salariais mais baixos, seja no topo. Um exemplo é o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – Pronatec, criado em 2011 com o objetivo de ampliar a oferta de cursos de educação profissional e tecnológica.
No caso do ensino universitário, além da facilitação do acesso por meio de diversos programas e ações (Fies, Pibid, ProUni, Reuni, Promisaes) e que tem resultado em efetivo aumento do número de matriculados, os indicadores de qualidade da educação superior apontam para uma sensível melhoria do padrão.
Ainda assim, dados do último Censo da Educação Superior, válidos para 2011, mostram que entre 2.136 universidades, faculdades e centros universitários então existentes no país, metade (50,6%) estavam com conceito 3, considerado apenas satisfatório pelo Ministério da Educação. O censo
indica uma melhoria geral do desempenho das escolas superiores, com queda no número de instituições com conceitos 1 e 2, considerados insuficientes, e crescimento daquelas nos níveis 4 e 5, que são os mais desejáveis. Que tá bom tá, mas pode melhorar.
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 O problema é que os resultados das ações que o governo federal tem adotado para melhorar a qualificação de nossos trabalhadores vão demorar algumas gerações para aparecerem. Até lá, e até que o país consiga liquidar a dívida histórica que tem com a educação, a solução, ao que parece, é mesmo importar profissionais numa escala muito maior que a praticada até agora e com benefícios no plano imediato. Além da formação de uma massa crítica, cada profissional estrangeiro empregado no Brasil poderia gerar entre 1,3 e 4,6 empregos para brasileiros, garante Marcelo Neri.
Acesse matéria sobre o projeto da SAE no site da BBC Brasil.
Acesse matéria sobre a contratação de mão de obra estrangeira no setor petrolífero também na BBCBrasil.
Baixe a pesquisa Pesquisa de Escassez de Talentos 2012 da Manpower Group.
Baixe relatório de autorizações de trabalho concedidas a estrangeiros pelo MTE.