quarta-feira, 10 de abril de 2013

Uma apreciação dos 100 dias do governo Carlin Moura

Um governo lento, envolvido em intrigas e em busca de bodes expiatórios
O governo Carlin Moura conclui hoje, dia 10 de abril, seus primeiros 100 dias corridos de governo.
Não sei quem, nem quando, estabeleceu esse marco inicial. De qualquer forma, os primeiros 100 dias se tornaram uma referência para a mídia e também para os atores políticos.
Demonstração disso é a bancada do Partido dos Trabalhadores - PT na Câmara dos Vereadores que, repetidamente, afirmou aguardar o transcurso desse prazo para decidir se há de ser ou não oposição ao governo municipal.
A afirmação foi confirmada ontem, em declaração ao jornal O Tempo, pelo vereador Obelino Marques.
O problema é que não há nas ações da Prefeitura sob nova gestão, nada que justifique uma mudança de comportamento. O governo municipal não se inclinou em qualquer direção que fundamente a necessidade de um oposicionismo. Por outro lado, também nada fez de relevante que possa endossar a adesão do PT ao projeto.
Carlin segue a passo lento, cauteloso.
A esta altura tem dois imensos problemas a resolver.
Primeiro, os evidentes conflitos de relacionamento dentro da equipe eclética demais e demasiadamente movida por agendas e interesses particulares. Esse problema transparece na matéria publicada pelo O Tempo. Segundo o texto, já existem secretários queixosos de que estariam sendo vigiados por pessoas de confiança do prefeito, “muito presentes em todas as secretarias”.
Isso não surpreende e apenas confirma o que andam falando nos becos, nas bocas e alto pelos botecos. Pessoas erradas nos lugares errados, pretensões demasiadas e, como decorrência, muita conspiração, boladas nas costas e inoperância.
O segundo problema escapa à vontade do prefeito como gestor.
O país entrou em ritmo de crescimento modesto, reflexo da crise mais geral que assola as grandes economias e, também, de dificuldades internas que a presidenta Dilma luta para resolver. Esse cenário impacta os municípios de modo negativo, com tendência de queda na arrecadação e maiores dificuldades para a obtenção de recursos a fundo perdido.
Este ano, na melhor das hipóteses, a arrecadação da Prefeitura vai crescer em linha com a inflação – nada de crescimento real.
Esse quadro reduz ainda mais as margens de manobra do prefeito que tanto prometeu.
E explica o esforço que Carlin tem feito para desconstruir a imagem da boa administração deixada pelo governo petista.
Isso vem sendo feito de diversas formas (alegações de problemas em contratos; suposta desorganização do quadro de pessoal, inclusive com excesso de servidores; acusações de uso indevido da máquina em alguns setores, etc.). Destaco, nesse esforço, artigo de Tilden Santiago, também no jornal O Tempo, mas de 3 de março, quando o governo completou 90 dias: “Na Secretaria de Educação, Ana Prates e dois adjuntos, identificados com a categoria, demonstram esforço positivo para resolver problemas de 125 escolas em estado precário, uma calamidade a ser superada para que a garotada seja bem-acolhida”. Estado precário? Calamidade? Tilden perdeu a razão?
O principal, entretanto, é a tentativa de apresentar Contagem como uma cidade endividada e sem recursos para, por exemplo, atender às reivindicações de reajuste salarial acima da inflação.
Pegou mal a declaração do prefeito ao jornal Estado de Minas da segunda-feira (1) alegando uma divida de 480 milhões “herdada da administração anterior”.
Essa dívida, mais que conhecida devido à prática constante de prestação de contas na administração passada, é a dívida fundada municipal e herdada, isso sim, de décadas anteriores. É a que Marília recebeu e que tão bem administrou, e é a mesma que o prefeito passará a seu sucessor um dia, esperamos que tão bem administrada quanto.
A bancada do PT na Câmara, tendo em vista sanar as dúvidas semeadas pelo prefeito, já convocou o secretário Municipal de Fazenda para os devidos esclarecimentos.
No mais, a gestão atual continua devendo mostrar a que veio.
No balanço efetuado pelo próprio governo municipal o grande “trunfo” desses primeiros cem dias é a propalada reabertura de unidades da Funec. Trunfo frágil. Como afirmei em post anterior, esse movimento resultou em fiasco. O prefeito escamoteia a questão, como o faz no jornal O Tempo, afirmando que foi retomada a “vocação da Funec para o ensino profissionalizante”. Besteira. Em primeiro lugar, a Funec jamais foi afastada dessa vocação. Em segundo lugar, o grosso das vagas abertas pelo atual governo foi para o ensino médio regular e tiveram que caçar alunos no laço. Quem, afinal, quer desvirtuar as vocações originais da Funec?
Por tudo isso, o melhor, penso eu, é manter a postura de independência defendida pela ex-prefeita Marília Campos no início do ano. Isso significa cobrar, principalmente, a continuidade e o aprofundamento das conquistas alcançadas na gestão petista e dar apoio aos movimentos sociais que exigem ao prefeito o cumprimento de promessas de campanha.
Carlin Moura realiza hoje a primeira reunião de seu Conselho Político. De acordo com postagem do vereador Alex Chiodi no Facebook, o prefeito anunciou a implantação do piso salarial para os Agentes de Saúde e Agentes de Combate a Endemias, passando os salários de R$690,00 para R$950,00. Também anunciou a implantação da jornada de 30 horas para os servidores da educação.
Menos mal. É uma uma importante conquista dos servidores.
Esperemos que, doravante, as boas notícias aconteçam mais rapidamente.
Acesse matéria sobre os 100 dias de governo Carlin Moura no Jornal O Tempo.
Acesse matéria sobre as dívidas municipais no jornal Estado de Minas.
Acesse artigo de Tilden Santiago no jornal O Tempo.