Famoso, o BRT de Curitiba, não favoreceu os mais pobres quanto ao tempo de deslocamento. Foto: flickr |
Chegar ao trabalho custa mais tempo nas regiões metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro do que em Londres, Nova York, Tóquio, Paris, Santiago, entre várias outras grandes cidades, exceto Xangai.
É o que constatou um estudo recém-publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA que investiga 20 cidades estrangeiras e 10 brasileiras com dados comparáveis para o período de 1992 a 2009.
O que a pesquisa revela é uma crise de mobilidade urbana que atinge a maioria das cidades brasileiras com a piora no tempo de translado nas cidades com maior densidade demográfica, maior produto per capita e maior proporção de pessoas com carro. Nas regiões metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro, levam-se em média 43 minutos para chegar até o trabalho, sem contar a volta. No caso da Região Metropolitana de Belo Horizonte, 34 minutos – uma piora de 3% em relação a 1992. Pessoalmente, acho esse dado subestimado.
A piora vem sendo mais sentida pelas mulheres, que já gastam quase tanto quanto os homens no trânsito.
O levantamento mostra, ainda, o período gasto de acordo com a faixa de renda da população. Na média das áreas metropolitanas brasileiras analisadas, os considerados pobres demoram quase 20% mais do que os mais ricos para chegar ao trabalho. Do total pesquisado, 19% daqueles que possuem faixa salarial menor fazem viagens com duração acima de uma hora (somente trajeto de ida), enquanto esta proporção entre os mais ricos é de apenas 11%.
Os resultados apontam para importância de futuros estudos que investiguem em que medida esta desigualdade nos tempos de viagem é resultado de diferentes níveis de segregação espacial e de acessibilidade dos bairros nas áreas metropolitanas brasileiras.
Um dado curioso: Curitiba, e também Porto Alegre, instalou, nos anos 1990, um sistema de transporte público considerados modelar com os famosos BRTs (Bus Rapid Transit, ou “trânsito rápido de ônibus” em tradução livre). Esse sistema permitiu que o tempo médio de viagem de seus habitantes permanecesse praticamente inalterado e evitando a piora observada em outras cidades. Entretanto, no caso de Curitiba, que se tornou especialmente famoso, o estudo constatou um dos maiores níveis de desigualdade nas durações de viagem quando comparados os 10% mais pobres aos 10% mais ricos. Curitiba se equipara a Brasília, onde os pobres demoram, em média, quase o dobro dos ricos.
Essa é uma informação importante a ser considerada no projeto BRT de Contagem.
Acesse a página do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA.
Baixe o estudo Tempo de Deslocamento Casa-Trabalho no Brasil (1992-2009): diferenças entre regiões metropolitanas, níveis de renda e sexo.